Avenida Paulista, 10 de abril, duas da tarde.
A moça segura uma pequena cartolina branca, quadrada, coração desenhado em vermelho. Ao centro, manuscrito em preto: VENDO BEIJO.
Morena quase mulata, cabelão black, óculos de grau, nem magra nem gorda, recato na roupa, boca boa.
– Quanto custa?
– No rosto, 5 reais. Selinho, 10. De língua, 20.
– É tabelado?
– Não. Depende do cliente. Às vezes, é de graça. Às vezes, o dobro, o triplo. Pra você, 5, 10 ou 20.
– Vende muito?
– Hoje, tá bom. Sábado é sempre mais animado.
– E dá dinheiro?
– Paga as contas.
– E dá prazer?
– Não me queixo.
– Funciona como?
– Você me paga. Eu te beijo.
– Pago antes?
– Pagamento primeiro, mercadoria depois. Se não gostar, devolvo o dinheiro.
– Posso abraçar?
– Não. Só tem beijo, abraço acabou… E então, vai querer?
– Aceita fiado?
– Só amanhã.
– Amanhã eu volto.
*
A foto é de Joel Meyerowitz, Nova York, 1965. Está no saboroso Kissez, blog com centenas de beijos, garimpado por Dani Arrais.